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12 setembro, 2022

E Continuam Caçando Bruxas... (Sobre Ser/Agir Diferente)

 

Fotografia de Rui Veiga
Às vezes, apesar de minha tranquilidade (aparente), tenho vontade de transgredir e revolucionar tudo, fazendo algo totalmente inesperado e que muita gente acreditaria que seria praticamente impossível que eu fizesse. Às vezes realmente faço e as pessoas se dividem comicamente em dois grupos, os assustados e os críticos. De um momento a outro, uns passam do primeiro grupo para o outro; bem previsível, após passar o susto provocado pela surpresa do inesperado. As palavras se levantam no ar como impiedosas flechas ou permanecem as carrancas estampadas, como a quererem espantar os maus espíritos, exatamente como suas similares nas portas das casas nos costumes antigos de algumas regiões do Brasil. 

Mas, apesar de toda a comoção, se é que posso usar este termo, a bem da verdade, não imagino porque eu teria que corresponder às expectativas dos outros, coisa que só diz respeito a cada um que se atreve  a usar deste artifício pouco útil. Como diz o velho adágio popular, o que eu faço da minha vida, só diz respeito a mim e NÃO DEVERIA dizer respeito a ninguém; porém, vivemos numa sociedade onde as pessoas foram acostumadas a reagirem como se a vida alheia lhes dissesse respeito e, alguns, sentem-se profundamente ofendidos, se alguém resolve pensar ou agir diametralmente diferente do que eles (ou a sociedade) estabelecem como padrão, ou seja, o supostamente certo.

Não foram raras as vezes em que me vi numa posição curiosamente hostil e me senti até envergonhado, para depois, aos poucos, começar a perceber que a opinião dos outros pouco ou nada tinha de importância em relação às minhas escolhas e na forma em que eu decidia viver. Desde que eu não estivesse de fato prejudicando ninguém, qualquer argumento em contrário não passa de falácia e intrometimento de alguém (ou alguéns) que se acha no direito de ser o juiz que vai pautar o que é certo ou errado na vida de quem vive dentro desta sociedade.

No passado, nas gerações anteriores à minha, a coisa era ainda pior e as pessoas que ousassem "escandalizar" a suposta moral vigente, era inevitavelmente colocada à margem da sociedade e tornava-se difícil mesmo conseguir viver, pois todas as facilidades (que já eram poucas) lhes eram tiradas, pois ela se tornara pessoa "marginal". Alguma semelhança à infame e desumana cultura do cancelamento de nossos dias? Pois é. Não só diz-se que as gerações atuais tem o costume de ressuscitar os costumes de das duas décadas (ou mais) anteriores, como isso já foi provado por estudos comportamentais realizados e dezenas de matérias a respeito publicadas; o problema é que nem sempre são ressuscitados bons costumes, mas também antigos vícios, alguns bem execráveis e inadmissíveis ao progresso humano em direção a um ideal humanitário e fraternal, onde busca-se atingir um mundo melhor, com relações saudáveis tanto para conosco, humanos, quanto para com os demais seres com os quais dividimos a vida neste planetinha azul.

Mas onde estaria a falha? Seria um erro de avaliação e bom censo? Mas isso não estaria ligado ao próprio interesse individual humano em buscar realmente se melhorar e eliminar de si os próprio equívocos inerentes e interferentes em seus, não só julgamentos, mas comportamento e pensamentos?

Na Bíblia se fala de "pecados", mas tirando toda sorte de religionisses, que só trouxeram mais problemas para a epopeia humana, do que benefícios, provavelmente sempre nos tenhamos equivocado em saber o verdadeiro sentido e dimensão que se buscou atingir com a escolha desta palavra. Ao invés de pensarmos de forma tão rasa, deveríamos atentar que, talvez, se buscasse dizer, pura e simplesmente, que devemos eliminar de nós o péssimo costume de querer estabelecer padrões muito particulares e baseados em critérios provavelmente muito duvidosos para pautar a vida do semelhante, posto que este, a meu ver, tem sido o maior mal do ser humano. Em toda a história, não fizemos mais do que condenar o outro pelo que supostamente deveria ser o certo e, muitas vezes, distorcendo os fatos ou omitindo-os, vaticinamos que este suposto mal deva ser eliminado da face da terra, custe o que custar, quase sempre cometendo as maiores atrocidades em escala global, em um processo de guerras consecutivas e sem fim. E pensar que isso começa com um supostamente inocente julgamento em relação à decisão de outra pessoa, que escolhe mudar e fazer algo diferente de/em sua vida.

Talvez, o problema do ser humano não seja o ego, mas o egocentrismo, a egolatria, o egoísmo. Mudar o foco para uma possibilidade mais coletiva e em expansão constante pode ser o único caminho da "salvação" de uma sociedade aos trancos e barrancos faz tempo e que muitos consideram em claro declínio e cujo destino pode ser derradeiro, caso não consigamos virar esta chave tão necessária.

Tudo isso é um bom ponto, creio eu, para ser não só refletido e paralisado na reflexão, mas que trazido para o dia à dia os seus bons resultados; e que resolvamos também mudar nosso modus operandi, para uma vida de relacionamentos mais respeitosos e, obviamente, mais saudáveis. 

Mudar, finalmente, pode ser a melhor escolha, em vez de julgar.

26 julho, 2020

A Verdadeira História de LILO & STICH

Se você quer manter a linda história da Disney em sua mente, não leia este texto, pois pode mudar para sempre a bela imagem de Lilo e Stich que você tem na lembrança.

Muitos viram o lindo filme da Disney, que é sobre as aventuras de Lilo, uma garota havaiana de 5 anos que encontra um experimento alienígena e se torna sua melhor amiga. Mas nada disso é a realidade. Vamos à história que contam em determinada região do Hawaii. 

Lilo era uma garota que ficou órfã, pois seus pais morreram quando foram esmagados por uma grande árvore que caiu sobre sua casa, como resultado de uma horrível tempestade. Lilo foi colocada pelas autoridades em um orfanato, mas acabou fugindo e indo viver nas ruínas de sua antiga casa, alimentando-se das esmolas que pedia aos habitantes da ilha. 

Stich

Obviamente, Stich não era um alienígena, mas,  na verdade, um filhote de cachorro que Lilo encontrou em um depósito de lixo; ele se tornou sua única e inseparável companhia, seu confidente, seu amigo.

Lilo nunca teve uma irmã, como mostra o filme; era tudo um produto de sua imaginação, de sua necessidade de fugir da dura realidade. Não raras vezes, Lilo e Stich se sentavam em frente à praia para sonhar acordada e imaginar que tinha uma irmã, amigos e grandes aventuras.

Nove anos se passaram. Lilo estava crescendo, já tinha 14 anos, mas ainda estava apaixonada por seu mundo e suas aventuras imaginárias, ao lado de seu cão inseparável. Como a dificuldade em lidar com a realidade aumentava dolorosamente cada vez mais, Lilo acabou se envolvendo com drogas e, para poder manter seu mundo ilusório e escapar dos sofrimentos de um mundo duro ao qual fora jogada pelo destino, começou a se prostituir para ganhar dinheiro e poder comprar as drogas que lhe facilitavam voltar a seu mundo onírico.

A história de Lilo e Stich foi compilada pela Disney, baseada nas histórias contadas pela própria Lilo às equipes médicas, nas várias tentativas realizadas de ser internada numa clínica de reabilitação, mas que ela sempre recusava. Ela contou sobre seu mundo e suas aventuras ao lado de seu amigo Stich e como ela estava feliz em escapar da realidade. 

Lilo estava cada vez mais mergulhada em seu mundo químico/imaginário e, tempos depois, como uma triste consequência, Lilo acabou sendo encontrada morta nas ruínas de sua casa, como resultado de uma overdose. Seu corpo foi encontrado por vizinhos incomodados pelo cheiro nauseante de podridão que se espalhava pela vizinhança. Seu cão inseparável não a deixou sozinha em nenhum momento. 

Stich jamais se separou de sua dona, mesmo depois que essa faleceu e foi enterrada num cemitério. Conhecedoras da história, pessoas levavam alimentos para Stich, que jamais sequer os tocou. Profundamente triste, Stich definhou até a morte sobre o túmulo de Lilo e, finalmente, pode novamente ficar com sua dona.

A Disney, como sempre, conseguiu transformar uma tragédia em um belo conto áudio-visual, que fascina adultos e crianças até hoje.

19 novembro, 2019

Primeiras Linhas de um Aviso Inicial

Eu poderia discursar sobre as razões que me trazem aqui e dar inúmeros motivos idiotas para te convencer, mas isso realmente não é importante. O fato é que estou aqui, nesta posição um pouco incômoda, mas que já foi muito mais incômoda do que agora, porque eu simplesmente parei de me preocupar tanto. Percebi, enfim, que fatos são fatos e de nada adianta ficar me preocupando em demasia quanto ao que está acontecendo e ao que pode acontecer no futuro; um futuro que é uma quimera, até que o presente se movimente em alguma direção.

Cheguei aqui por 'acaso' - se é que isso existe - há dois anos. Estranhamente, fui abordado numa lanchonete. Fui pego de surpresa com a proposta e com a escolha do local onde vieram fazê-la, mas depois compreendi a necessidade de um local público; uma boa forma de evitar uma reação indesejada de minha parte.

Eles chegaram e me 'convidaram' a fazer parte de um projeto governamental sigiloso, mas que, até então, não poderiam revelar. É óbvio que achei estranho e até mesmo ri da proposta, mas depois tive que enfiar minha viola no saco, porque os sujeitos estavam mesmo falando a verdade e o tal projeto realmente existia. 

Eles me conheciam muito bem. Não só desfilaram todo meu currículo acadêmico, como também meus costumes diários, o que me deixou bem assustado, pois disseram coisas que somente eu sabia, coisas como: que lado da boca eu escovo os dentes primeiro. Parece ridículo, eu sei, mas era este tipo de meticulosidade de conhecimentos que eles tinham a meu respeito. Já estavam me observando faz tempo, pensando em 'recrutar-me' para o trabalho que faço hoje.

Por que resolvi falar sobre isso abertamente? Bem, estou doente e sem chance de cura. Não que ela, a cura, não exista, ela existe, mas vários eventos me trouxeram à posição em que estou agora e, digamos, essa doença foi resultado de algumas desavenças e desagrados, que nasceram e culminaram a partir do momento em que resolvi discordar de certos 'valores'. A cura? Bem, está exatamente em poder de quem não é muito simpático às minhas opiniões. Como não há muita esperança de que me façam uma bondade, resolvi golpear fundo, expondo o que sei, ou pelo menos, parte considerável do que sei a respeito do que andam fazendo, já há muitos anos e pelas costas de gente como você. O assunto é delicado e merece um cuidado especial com as palavras, para que não pareça uma coisa de maluco, muito embora isso acabe acontecendo de alguma forma, pelo menos no início do relato.

Bom, vamos deixar de enrolação e passar logo aos fatos que me trouxeram até este momento derradeiro de minha vida, mas que - quem sabe? - não pode ser um divisor de águas na política de acobertamento de segredos tão assustadoramente importantes para o futuro da humanidade, tirando-a deste obscuro abismo que 'eles' cismam em manter a todos. Está na hora de todos saberem o que está acontecendo e, talvez, tomar as rédeas desta loucura. Mas nunca é demais deixar de salientar que esta mudança não virá pacificamente e, sangue e vidas se perderão em meio a esta reviravolta, que só pessoas como você podem pôr em marcha, para seu próprio bem e de toda a humanidade neste planeta.

09 outubro, 2019

A História Original de A PEQUENA SEREIA


A versão de A Pequena Sereia que todos nós conhecemos tem um final muito feliz. Ela foi adaptada pelos estúdios Disney em 1985 e conta a história de amor entre a sereia Ariel e o príncipe Eric, terminando com os dois vivendo felizes para sempre. No entanto, o conto original, escrito pelo dinamarquês Hans Christian Andersen, não termina nada bem para a jovem sereia. Segundo se afirma, o autor escrevera a história baseado no amor não correspondido por outro homem.

A Verdadeira Origem do Conto

Na história criada por Andersen, a sereia salva o príncipe de um afogamento e acaba se apaixonando por ele. No entanto, sua natureza de sereia os impede de viverem juntos e felizes. Então, ela recorre à bruxa do mar, que lhe concede pernas e em troca recebe sua bela voz como pagamento. No entanto, o encantamento tem um porém: caso não seja correspondida, ela morreria dissolvendo-se na água do mar até desaparecer completamente. Dito e feito! O final acaba sendo inesperadamente trágico, pois o príncipe escolhe se casar com outra princesa. Com o coração partido, a pequena sereia vê seu destino ser tragicamente selado. 

Em 1837, quando da criação da história e da personagem, Andersen buscava representar seu fracasso na conquista de um heterossexual chamado Edvard Collin. Os biógrafos de Andersen afirmam que ele era bissexual e, totalmente arrasado, após seu amado decidir se casar com uma mulher, decidiu escrever o conto, como um recado para o amigo.

Um uma carta que escreveu para Collin, dizia: "A feminilidade da minha natureza e a nossa amizade devem permanecer um mistério". Mas, infelizmente, não era correspondido. O próprio Collin escrevera em suas memórias: "Eu me encontrei incapaz de responder a esse amor, e isso causou muito sofrimento ao autor".

Andersen parecia ansiar por fazer parte do mundo de Collin, da mesma forma que sua personagem.  O crítico de história literária e cultural Rictor Norton e autor de Meu Querido Garoto: Cartas de amor gays ao longo dos séculos, afirmou: “no conto de fadas escrito para Collin, Andersen se apresenta como o forasteiro sexual que perdeu seu príncipe para outro”.

No entanto, Andersen teve diversos reveses amorosos, onde teria se apaixonado por muitas mulheres que considerava inatingíveis e, segundo registros pessoais, sua vida sexual não era nada ativa. Talvez, seus outros contos também revelem seus conflitos de amor.

A Verdadeira História de CINDERELA

Muitos estão familiarizados com a narrativa apresentada nos filmes da Disney, no entanto, a história da princesa do sapatinho de cristal tem registros de 860 anos a.C e tratam de assuntos trágicos.


Por Fábio Previdelli 

A história da Cinderela é um conto popular que se tornou famoso no mundo todo devido ao grande sucesso que teve após adaptações feitas pela Disney. No entanto, a animação de 1950 e o live action de 2015 contam uma história muito mais amena e social do que suas versões primitivas, que tratam de assuntos como assassinatos e mutilação.

A alternativa mais antiga que se tem registro é a narrativa chinesa de Ye Xian, datada do ano 860 a.C. Além dela, outras que se tornaram mais conhecidas são a apresentada pelos Irmãos Grimm e por Giambattista Basile.

Confira abaixo alguma das versões mais antigas e mais sangrentas da princesa do sapatinho de cristal.

Rhodopis

A versão oral mais antiga que se tem conhecimento na Europa é a história grega de Rhodopis, uma cortesã grega que viveu na colônia de Naucratis, Egito. A história foi registrada pela primeira vez pelo geógrafo e filósofo grego Estrabão.

Segundo o conto, uma águia pegou um par de sandálias de uma empregada e as levou até Mênfis, no Egito. Chegando lá, o animal soltou o calçado no colo de um rei, que ficou extasiado tanto pela bela forma das sandálias quanto pela estranheza da ocorrência. Assim, enviou seus homens em todas as direções do país em busca da dona do calçado. Quando ela foi encontrada, o rei se casou com ela.

La Fresne

Essa versão do século 12 d.C, escrita por Maria da França, narra a história de uma mulher nobre que abandona uma de suas filhas recém-nascidas. A motivação do desamparo se dá pela crença da época que dizia que uma mulher que engravidava de gêmeos seria infiel, já que eles seriam oriundos de pais diferentes.

Sendo assim, ela deixa uma de suas filhas do lado de fora de uma abadia. O bebê é encontrado por um porteiro que a entrega a uma gentil abadessa. A menina recebe o apelido de Le Fresne e, quando adulta, se apaixona por um nobre cavaleiro.

A união é vista como impossível, já que ele tem que manter uma relação com alguém da nobreza e se casar com uma qualquer significaria o fim de sua linhagem. O nobre acaba sendo convencido a se casar com outra mulher, que, por ventura, é a irmã gêmea de Le Fresne. A ligação das duas é revelada no dia do matrimônio, que é interrompido para que ele se case com quem realmente ama.

Ye Xian

A versão asiática é datada por volta de 860 a.C. Nela, Ye Xian é filha de um líder tribal local que morreu quando ela ainda era muito jovem. Como sua mãe faleceu ainda mais cedo, seu pai acabou se casando com outra mulher, a qual ficou incumbida de cuidar de Ye Xian. Porém, ela é constantemente abusada e só encontra paz quando faz amizade com um peixe, que é a reencarnação de sua mãe.

Sua madrasta e sua meia-irmã matam o animal, mas Ye Xian salva os ossos do bicho, do qual ela descobre que são mágicos. Assim, ele a ajuda a se vestir adequadamente para um festival local. Calçando um sapato dourado, ela é reconhecida por sua família adotiva, que a expulsa do festival.

No meio da confusão ela perde seu calçado, que é encontrado por um rei de uma ilha marítima. Ao procurar a dona do sapato, ele chega à casa de Ye Xiang e se apaixona por ela. Assim, o monarca a resgata de sua cruel madrasta e os dois se casam.     

A versão dos Irmãos Grimm e outras histórias sangrentas

Apesar das versões apresentadas serem muito semelhantes com aquelas que estamos acostumados a ouvir. Outras interpretações do conto são muito mais macabras e assustadoras. Um exemplo é a contada pelos Irmãos Grimm. Para eles, a história de Cinderela era muito mais sangrenta.

Nela, a gata borralheira plantou uma aveleira no túmulo da mãe e a regou com lágrimas. Na árvore morava um pássaro, que a cobriu de ouro para três dias de baile. No terceiro dia, o príncipe pegou o sapatinho da desconhecida.

Na hora de experimentar nas donzelas do reino, uma irmã de Cinderela cortou o dedo do pé e a outra o calcanhar. Claro, o sapatinho só serviu na dona. E, no dia do casamento, duas pombas perfuraram os olhos das irmãs.

Pode até parecer assustador, mas essa não é a única narrativa com um final escabroso. Em uma das histórias, a moça vira empregada para fugir do assédio sexual do pai. Em outra, a madrasta, tentando matar a enteada, joga uma de suas filhas na fogueira. Numa terceira, a madrasta deixa Cinderela sem comer, numa época em que a fome rondava as aldeias.

Há outra, registrada por Giambattista Basile na coletânea Pentameron, do início do século 17, em que o pai de Cinderela casa-se com uma mulher que a trata mal, quando ela queria que ele se casasse com a governanta. Cinderela, então, assassina a madrasta.


08 outubro, 2019

O Ilustre Desconhecido

O Rio de Janeiro é uma cidade bastante cosmopolita. Gente de todo lugar vem passar férias aqui, acaba se apaixonando e ficando de vez. A cidade é realmente bonita, mais por sua natureza e proximidade entre montanha, floresta e mar.

Como toda cidade grande, o Rio também tem seus problemas, mas nós cariocas e algumas pessoas de fora que vieram morar aqui, logo aprendemos a lidar com estes contratempos de forma muito peculiar.

Meu nome é Alexander Zimmer. Sou escritor, ator e cineasta. Também sou entusiasta de assuntos pouco ortodoxos e considerados por alguns, no mínimo, duvidosos. Mas sou da opinião de que não se deve bater o martelo em relação a algo que não tenha sido analisado profundamente. Como diz o velho ditado: onde há fumaça, há fogo.

Partindo deste princípio, nunca fui uma pessoa de aceitar “achismos” de ninguém. Sempre que algum assunto desperta minha atenção, procuro saber um pouco mais e acabo por mergulhar fundo na questão.

Possuo uma biblioteca extensa sobre assuntos dos mais diversos, sobretudo, relacionados ao sobrenatural, arqueologia proibida, ufologia e… extraterrestres. Digo biblioteca, mas nisso também estão incluídos filmes, vídeos e recortes. Tenho mesmo muito material relacionado e, muitos deles, verdadeiras raridades; alguns garimpados a muito custo e outros, resultado de incursões e experiências pessoais.

Não preciso me estender muito sobre mim. Não sou a parte importante deste livro e até a presente data em que o escrevo, sou autor de dois outros romances: “A Maldição da Lua” e “Anne Blind entre Luz e Trevas”, o primeiro lançado pela extinta Editora Faces e o segundo lançado pela Editora Viseu. Porém, aqui faço apenas o papel de repórter. Na verdade, nem fui atrás do assunto em questão; ele veio atrás de mim – de certa forma. Bom, vamos por partes. Prometo que vou tentar sintetizar o máximo possível, para que a leitura não se torne enfadonha e redundante.

Apesar de não ser um investigador profissional e nem um ufólogo de verdade, sempre me interessei pelo assunto, a ponto de ir a simpósios e editar um blog, cujo conteúdo versa sobre diversos assuntos não muito ventilados pela mídia dita “oficial”, mas, sobretudo, a respeito do fenômeno UFO e de extraterrestres. O nome do blog é Filosofia Imortal (FI). O FI tem, atualmente, pouco mais de duas mil visitas por dia, de diversas partes do mundo. Mesmo no blog, procuro não emitir uma opinião definitiva sobre nada. Antes, deixo sempre a discussão em aberto, de forma que o leitor possa sempre tirar suas próprias conclusões, servindo também como incentivo para que o mesmo procure pesquisar mais sobre os assuntos de seu interesse. 

O blog funciona mais como um aglutinador de várias informações garimpadas na Internet, facilitando assim que o leitor consiga acessar tudo que possa interessar de forma rápida e com o frescor das constantes atualizações. E foi através do FI, que um dia recebi um e-mail, cujo autor se deixava conhecer apenas pelo nome de Hamilton e que reproduzo abaixo:

Sr. Editor
Antes de mais nada, gostaria de pedir sua atenção por alguns minutos.
Adquiri seu romance A Maldição da Lua e sou leitor assíduo de seu blog, não porque seja um grande entusiasta dos assuntos ali postados, mas porque um determinado tema tem muito a ver com minha experiência de vida.
Vivi muitas coisas em meus 45 anos de vida e gostaria que esta vivência não ficasse perdida. Inclusive, não é apenas de minha opinião que a história que gostaria que ficasse apenas guardada em minha lembrança, deva ser compartilhada com o público. Por isso escolhi entrar em contato com o senhor, de forma que pudéssemos conversar sobre o assunto e que tivéssemos a oportunidade de saber se seria de seu interesse, escrever um livro sobre tudo que tenho para contar. Caso não se interesse em absoluto pela minha história, compreenderei perfeitamente sua recusa, sem quaisquer ressentimentos. Reconheço mesmo, que o assunto pode ser, por demais, polêmico e não seria o senhor, creio eu, o único a recuar diante de minha proposta. Atitude que consideraria bem natural.
Obviamente, que não podemos falar sobre o assunto através de correio eletrônico, por isso, coloco-me a sua inteira disposição para um encontro, em local e horário de sua escolha. Peço apenas, que seja um local onde possamos conversar sobre assunto sério, sem sermos importunados por “curiosos”, apesar de local público, para que o senhor se sinta seguro.
Sendo assim, deixo meu telefone de contato. Ou se preferir, pode responder-me pelo próprio correio eletrônico.
Grato.
Hamilton


Obviamente que fiquei extremamente curioso com o e-mail do tal Sr. Hamilton. Mas ao mesmo tempo, fiquei com o pé atrás. Apesar de o texto ser respeitoso e até cuidadosamente escrito, deixando transparecer uma pessoa culta, confesso que não sabia se podia confiar em algo assim. No entanto, sendo uma história realmente especial, como o Sr. Hamilton prometia, não aceitar seria desperdiçar talvez uma boa história. Mais tarde, percebi que era muito mais do que uma boa história… muito mais do que isso. Graças a Deus não recusei.

Apesar da vontade de responder a mensagem por e-mail, fiquei reticente. A insegurança comum de saber se deveria dar atenção e levar a frente algo que poderia vir da mente de algum maluco. Vai que o cara é um psicótico ou coisa pior? Mas também, se eu não arriscasse, nunca saberia de fato o que estaria, por acaso, perdendo. Além do mais, ele mesmo sugerira que nos encontrássemos num local público.

Peguei o telefone, olhei para as teclas durante algum tempo e, num ímpeto, disquei os números. O telefone tocou quatro vezes, antes que alguém atendesse. Uma voz rouca, mas, ao mesmo tempo, jovial, sem perder em seriedade, respondeu. Identifiquei-me e logo começamos um papo mais descontraído, falando sobre o blog e diversos assuntos, antes de finalmente entramos no assunto em questão e que deveria levar a um possível livro. Como o papo era por telefone, não nos estendemos muito, por questões obvias. Então, marcamos um encontro no dia seguinte, uma sexta-feira, no restaurante Amarelinho, no bairro da Cinelândia, centro do Rio, às quinze horas, de forma que não pegaríamos o horário de almoço e nem a hora do rush, em que todo mundo sai de seus empregos e lotam tradicionalmente os bares, para um chopinho antes de ir para casa.

Cheguei meia-hora antes, de forma que pudesse estar atento e ver a chegada do ilustre desconhecido e, de repente, perceber algo de estranho ou não, de forma a me precaver e saber se não me metera numa furada. Péssima ideia! O que consegui foi ficar quase neurótico, a medida que o tempo passava e se aproximava a hora de encontrar com o ilustre desconhecido de nome Hamilton. A única coisa que sabia sobre ele era seu nome. Acabei por não perguntar nada sobre sua aparência quando falamos ao telefone, então, de qualquer forma, seria uma incógnita até que ele se apresentasse ao chegar. Ele estava na vantagem, pois sou uma pessoa pública, fácil de reconhecer por fotos na Internet.

O tempo passou lentamente, como a querer me deixar cada vez mais entre ansioso e descrente de que aquilo pudesse render uma boa história de fato. Provavelmente seria mais um maluco que contaria uma história besta sobre discos voadores e extraterrestres, sem o menor embasamento e cheia de absurdos, que qualquer pessoa com o mínimo de sensatez recusaria de cara.

O relógio marcou quinze horas e um homem de cabelos castanho-claros acenou para mim do outro lado, vindo da direção do prédio da Biblioteca Nacional. Vestia-se de forma simples. Uma calça jeans, uma camisa italiana e tênis. Quando se aproximou da mesa, levantei-me e, cumprimentando-o, ofereci a outra cadeira, para que sentasse. 

Tinha um olhar calmo, porém que transmitia uma confiança e energia e que dava a clara impressão de que aquele homem, além de ter um bom coração, realmente possuía algo importante para contar. Não sei bem como explicar essa sensação, apenas estou descrevendo o que senti.

– Pois então, Hamilton. Você me disse que tinha uma história e gostaria de compartilhar com o público através de um livro escrito por mim.
– Isso mesmo, Alex. Você se incomoda que eu te chame de Alex?
– Absolutamente. Fique à vontade. Mas… por que não publica-la no blog?
– Isso até poderia ser feito, mas acredito que um livro é uma forma mais segura e concreta de divulgar tudo quanto tenho para lhe contar. Até porque a história é grande e cheia de detalhes, o que por si só já seria motivo para um livro, creio eu.
– Tá. Mas por que eu? Por que não outro autor?

Hamilton suspirou fundo e deu um sorriso enigmático, que até então me pareceu indecifrável.

 –Bem, você escreve muito bem e seu interesse pelo assunto demonstra uma imparcialidade. Você não puxa a brasa para a sardinha de ninguém. Isso nos agrada.
– Nos? O que você quer dizer com isso? Tem mais gente envolvida?
– Bom, tudo a seu tempo. Se eu adiantasse tudo agora, neste primeiro encontro, creio que teria que resumir demais e o assunto, se me permite, tem importância demais para ser resumido; coisas essenciais se perderiam. Portanto, peço sua paciência para que eu possa falar de tudo conforme acredito que deva ser contado.

Fiquei curioso com tudo que se passava. Não só a forma como ele falava, mas o quanto seu discurso era conciso. A verdade era que eu ficava cada vez mais interessado e curioso. Apesar de tudo, Hamilton era muito natural e tranquilo; uma tranquilidade de certa forma contagiante.

Alguma coisa me dizia que ele tinha realmente uma grande história e essa história, possivelmente mexera e muito com o ser humano que ele era. O fato é que ele era diferente de todas as pessoas que eu já conhecera na vida. Cheguei a questionar se eu não estava fantasiando isso, mas era evidente demais essa sua diferença, para que eu pudesse ignorá-la. Era algo bom. Definitivamente, bom! Muito embora eu não pudesse identificar especificamente o que era diferente!

– Veja bem. O que irei te contar não é apenas mais uma história. Se me permite dizer, é “A história”. Tudo pelo que passei mudou e muito minha própria vida, a forma como vejo o mundo e, consequentemente, como vejo o universo.
– O universo? Um pouco forte isso, não?
– Bastante. E não há nada de exagero. É a mais pura verdade. Bem… como gostaria que eu começasse? Talvez seja melhor começar bem do comecinho, não?
– Ora… Como você quiser, Hamilton. Eu to aqui para te escutar mesmo. Posso gravar tudo o que você vai dizer? Seria mais fácil para transcrever no computador, quando eu chegar em casa.
– Fique à vontade, Alex. É melhor mesmo que grave, pois assim fica mais fiel e você não precisa resumir tudo que eu digo, enquanto escreve. Só peço que estas fitas sejam apagadas, assim que o livro for publicado. O objetivo não é que o conteúdo acabe circulando pela Internet em forma de áudio. Caso contrário, eu mesmo poderia fazê-lo. É importante que o produto final tenha qualidade e fidelidade. Muitas das coisas que contarei precisaremos esclarecer e isso renderá muitas horas de conversa entre nós dois. Lembre-se que este é apenas nosso primeiro encontro e há muito o que ser contado e principalmente entendido.

Concordei com seu pedido, que me pareceu muito razoável. Peguei o pequeno gravador digital dentro da pequena mochila, liguei e coloquei em cima da mesa. 

E assim começou a história de Hamilton.

Trecho do livro "Entrevista com o Extraterrestre"
De Alexander Zimmer
Baseado numa história verídica e fantástica.
Lançamento em breve.

02 outubro, 2019

A Verdadeira História de A BELA ADORMECIDA

Sleeping Beauty, por Henry Meynell Rheam
A Bela Adormecida é um clássico conto de fadas cuja personagem principal é uma princesa, que é enfeitiçada por uma maléfica feiticeira por um dedo picado pelo fuso de um tear. (por vezes descrita como uma bruxa, ou como uma fada maligna) para cair num sono profundo, até que um príncipe encantado a desperte com um beijo provindo de um amor verdadeiro. É um dos contos mais famosos da humanidade atualmente.

Irmãos Grimm
A versão mais conhecida é a dos irmãos Grimm, publicada em 1812, na obra Contos de Grimm sob o título A Bela Adormecida (título original Dornröschen, "A Rosa dos Espinhos"[1]) [2]. Esta é considerada que tem como base tanto na versão Sol, Lua e Talia de Giambattista Basile, extraído de Pentamerone, a primeira versão a ser publicada na data de 1634[3], como na versão do escritor francês Charles Perrault publicada em 1697, no livro Contos da Mãe Ganso sob o título de A Bela Adormecida no Bosque[4], que por sua vez também se inspirou no conto de Basile.

Segundo o conto do Charles Perrault, a versão mais popular.

Na festa do primeiro aniversário da tão desejada filha dos soberanos de um reino encantado, foram convidadas sete fadas madrinhas, presenteando a criança com dádivas como a beleza, a inteligência, a riqueza, a bondade, etc.. No entanto, uma bruxa malvada ou fada malvada que fora negligenciada porque o rei tinha apenas sete pratos de ouro, interrompeu o evento e lançou-lhe como vingança uma maldição, cujo resultado seria a morte pelo picar do dedo num fuso quando a princesa atingisse a idade adulta. Porém, ainda restava o presente da sétima fada, que havia chegado atrasada. Assim sendo, esta suavizou o feitiço, transformando a maldição mortal da fada má num sono profundo, até o dia em que seria despertada pelo primeiro beijo de amor.

O rei proibiu imediatamente qualquer tipo de fiação em todo o reino, mas tudo foi em vão. Quando a princesa completou 16 anos, descobriu uma sala escondida numa torre do castelo onde encontrou uma velha a fiar. Curiosa com o fuso pediu-lhe para ensiná-la a usar a roca de fiar, picando-se nesse mesmo instante com o fuso. Sentiu então o grande sono que lhe foi destinado e, ao adormecer, todas as criaturas presentes no castelo adormeceram juntamente, sob um novo feitiço da 7ª fada piedosa. Com o passar do tempo, cresceu uma floresta de urzes em torno do castelo, isolando-o do mundo exterior e causando dor e morte a quem tentasse entrar, devido aos seus inúmeros espinhos. Assim, muitos príncipes morreram ou desistiram ao tentar encontrar a princesa, chamada de Bela Adormecida, cuja beleza era tão falada nas redondezas.

Após cem anos decorridos, um destemido príncipe enfrentou a floresta de espinhos, mesmo sabendo do perigo mortal, e finalmente conseguiu entrar no castelo. Quando encontrou a torre onde a princesa dormia, viu que era tão grande a sua beleza que se apaixonou e, não resistindo à tentação, deu-lhe um beijo que a despertou para a vida e, seguindo-se ao dela, o despertar de todos os habitantes do reino que continuaram suas vidas e afazeres de onde haviam parado há cem anos. Na versão de Grimm a história termina aqui, enquanto que na de Perrault segue com a continuação:

O príncipe e a bela princesa casaram-se secretamente e tiveram dois filhos: Aurora e Dia. Quando a mãe do príncipe (de descendência de ogres) soube disso ficou com vontade de comê-los, e ordenou a um caçador que os matasse e trouxesse, mas o caçador colocou animais no lugar onde deveria ter as crianças. A rainha, quando se apercebeu disso, enraivecida, mandou atirar as netas em um poço cheio de serpentes, cobras e víboras durante a ausência do príncipe, seu filho, que tinha ido caçar codornizes. Mas o príncipe chegou antes do tempo previsto, e a rainha, que já não podia fazer o planejado, cheia de ódio e medo ao filho, desequilibrou-se caindo dentro do poço onde morreu. A partir daí, a princesa e o príncipe "viveram felizes para sempre"!


Os nomes da princesa

Cada versão do conto tem um nome diferente desta personagem. Em Sol, Lua e Talia, ela tem o nome de Talia, cuja derivação provém da palavra grega Thaleia, que significa "o florescimento"[4].

Perrault, por sua vez, não lhe deu nome. Esta é simplesmente chamada como "a princesa", enquanto Aurora é o nome da filha da princesa. Porém Tchaikovsky transferiu o nome da filha para a mãe, sendo então Aurora o nome da princesa no filme da Disney.

Por fim, os Irmãos Grimm referem-se à princesa como a Bela Adormecida[5]. No idioma original é chamada, tal como no título, de Dornröschen, cuja tradução de dorn é espinho e de röschen é florzinha, diminutivo de flor. Algumas versões do conto traduzem o nome da princesa para Rosa do Espinheiro, Flor do Espinheiro ou Rosa de Urze, já que originalmente o reino no qual a princesa dorme é cercado por um extenso espinheiro, sendo a princesa então conhecida como "Rosa do Espinheiro" ou "Flor do Espinheiro".


As diferentes versões

No conto de Basile, a princesa Talia cai num sono profundo quando fica com um pedaço de linho encravado debaixo da unha. O rei, que já está casado, quando a descobre no castelo abandonado fica de tal maneira apaixonado que a violenta enquanto ela dorme. Apenas nove meses após esta visita que Talia acorda, altura em que dá à luz os dois infantes, o Sol e a Lua. Quando a rainha, esposa do rei, toma conhecimento da existência de Talia e dos seus dois bastardos, ordena imediatamente as suas condenações, porém esta acaba por morrer no próprio fogo que preparava para a princesa, deixando todos os restantes felizes para sempre. Resumindo , a princesa é estuprada por um rei e dá a luz a dois gêmeos. É acordada por um de seus filhos. Desta forma, ela acaba se casando com o rei, por mais que ele tenha abusado da garota enquanto estava adormecida.

Em Perrault, a princesa acorda quando um príncipe a descobre e, apaixonados, casam-se e criam um amor que tem como frutos uma filha chamada Aurora e um filho com o nome Dia. No entanto, o amado sai numa caçada, deixando a princesa e os seus filhos ao cuidado da sua mãe ciumenta, que até então não sabia da existência do casamento do filho. Esta é descendente de Ogres e as suas tendências canibais provocariam a morte destes três, se não fosse a compaixão de um cozinheiro, que engana a sua majestade com carnes de animais. Por fim, quando o seu filho chega e descobre as tentativas de destruir a sua família, a rainha suicida-se ao saltar para um tanque repleto de sapos, serpentes e víboras que tinha preparado para a princesa.

As segundas partes destas duas versões são consideradas por alguns folcloristas como contos distintos que foram unidos inicialmente por Basile.

A versão dos Irmãos Grimm termina logo após o encontro do príncipe. Assim foi criada uma integridade superior à dos contos anteriores que a tornou, em consequência, mais popular.

Em Ever After High, Briar Beauty é a filha da Bela Adormecida.


Filmes

A história também ficou muito conhecida através do filme produzido pela Disney em 1959, que conta uma história mais parecida com a versão dos Irmãos Grimm, apesar de possuir uma série de adaptações na história: Não são doze fadas que visitam o batizado da princesa, e sim três: Flora, Fauna e Primavera. No lugar de uma fada invejosa, retrata uma bruxa sombria chamada Malévola, que possui um castelo rodeado de trevas com seu próprio exército de monstros. Tanto as fadas quanto a bruxa permanecem presentes durante todo o filme. Além disso, o príncipe conhece a princesa assim que ela nasce, já que seus pais eram amigos dos pais dela e haviam decidido casamento entre seus filhos anteriormente. Outra mudança é que as três fadas querendo proteger a princesa recém-nascida, sequestram-na e levam-na para a floresta, onde criam-na disfarçadas de camponesas. A princesa sonha com o príncipe e só descobre que é filha do rei e da rainha ao completar dezesseis anos de idade, quando Malévola a atrai para um cômodo do castelo e a princesa fura o dedo no fuso de uma roca. Com a ajuda das fadas, o príncipe ainda derrota a própria Malévola transformada em dragão (que seria equivalente à mãe ogre das outras versões) e após beijar a princesa, o conto acaba com o casal dançando em vosso casamento e as três fadas indecisas sobre a cor do vestido da protagonista. Além disso, no filme a princesa é chamada de Aurora (assim como na versão de Tchaikovsky) e o príncipe de Filipe.

Em 2014 é lançado o filme Malévola, com inspiração no clássico de 1959 da Disney, narrado sob o ponto de vista da antagonista, a bruxa Malévola, encarnada por Angelina Jolie. Aqui conhecemos uma outra versão da história: Malévola costumava ser a mais poderosa protetora do Reino dos Moors, onde habitavam os seres fantásticos. Após sofrer por uma terrível traição do Rei Stefan, ela se vinga rogando uma maldição em sua filha, a Princesa Aurora. O que Malévola não contava é que desenvolveria um grande laço de afeto com Aurora, e consequentemente, arrepender-se-ia de sua própria maldição.


Televisão

No seriado Once Upon a Time há uma fusão entre as versões de Grimm, de Perrault e da Disney. Aurora é filha da Bela Adormecida e, assim como sua mãe, também sofre uma maldição do sono, dormindo um sono profundo na Floresta Encantada. O príncipe Philip, o amor verdadeiro da princesa, ajudado pela guerreira Mulan, a encontra e a desperta com o beijo de amor verdadeiro.


Referências

  1.  Por vezes também traduzido para inglês como Little Briar Rose, cuja tradução directa é O Pequeno Matagal de Rosas.
  2.  Contos de Grimm, vol.1, nº50
  3.  Giambattista Basile, Pentamerone, "Sun, Moon and Talia" Arquivado em 7 de junho de 2011, no Wayback Machine.
  4.  The Annotated Classic Fairy Tales (em inglês). [S.l.]: W. W. Norton & Company. 2002. ISBN 0-393-05163-3, pg.95.
  5.  Mal a beijou, a Bela Adormecida abriu os olhos, acordou e olhou-o com um ar doce. - Retirado de: Jacob e Wilhelm Grimm. Contos de Grimm. [S.l.]: Relógio D'Água. ISBN 972-708-392-7.
  6.  The Annotated Classic Fairy Tales (em inglês). [S.l.]: W. W. Norton & Company. 2002. ISBN 0-393-05163-3, pg.96.


Bibliografia

The Annotated Classic Fairy Tales (em inglês). [S.l.]: W. W. Norton & Company. 2002. ISBN 0-393-05163-3
Jacob e Wilhelm Grimm. Contos de Grimm. [S.l.]: Relógio D'Água. ISBN 972-708-392-7


30 setembro, 2019

A Verdadeira História de A BELA E A FERA


Foi no século XVIII que surgiu o conto de fadas A Bela e a Fera em uma publicação anônima de Gabrielle-Suzanne Barbot de Villeneuve, mais conhecida como Madame de Villeneuve, que em 1740 publicou em um jornal francês voltado para contos, a história original de A bela e Fera, o qual possuía mais de 300 páginas.

A história da Bela e Fera foi reescrita em 1757 por Jeanne-Marie Leprince de Beaumont, conhecida como Madame Leprince de Beaumont, porém ela ocultou alguns fatos da história principalmente os de teor erótico. Por ter jovens meninas como seu público principal, com isso romantizou o conto de Madame de Villeneuve criando bastante polêmica na época por censurar a obra.

Em 1991, a produtora Walt Disney transforma a história reescrita para a que conhecemos atualmente. Sendo produzidas diversas versões desde desenhos animados até chegar à última em 2017, trazendo no elenco a Emma Watson interpretando Bela.

Imagem dos personagens do filme A Bela e a Fera
de 2017 e 2004
Agora, se eu disser que a história original não tem como lição de moral que devemos amar a aparência interior de vez a exterior, você acreditaria? A versão original narra, dentro de uma história fictícia, como as mulheres idosas eram tratadas pela sociedade, que naquele momento era a realidade da autora.


GABRIELLE-SUZANNE BARBOT DE VILLENEUVE

Nascida em Paris no ano de 1685 que aos 21 anos se casou com o Monsieur Villeneuve, a qual herdou o título de Madame de Villeneuve, porém a vida de casada durou pouco e enviuvou cedo. Tendo que buscar a sua sobrevivência, Madame de Villeneuve mudou-se para a residência do escritor, poeta e dramaturgo Crébillon, a qual os dois mantinham secretamente um relacionamento íntimo, mas para a sociedade ela era somente uma secretária e governanta da casa.

Com 45 anos, pela influência de Crébillon começa a escrever romances, mas é o conto publicado em “La jeune américaine” que fez mais sucesso na época, o qual conta a história de A bela e a Fera.


UMA NOÇÃO DA HISTÓRIA ORIGINAL (1740)

Como o livro original não possui tradução para o português, todo o conteúdo abaixo é um compilado de diversas resenhas do livro.

A história se baseia na vida de uma fada idosa. No mundo das fadas, quanto mais velhas for uma pessoa mais respeitável elas se tornam, porém uma fada na sua idade madura (nem tão idosa, nem tão nova) se apaixona por um rei e através do amor deles nasceu uma pequena menina. Esta é punida do mundo das fadas e deixam-na para ser criada por um comerciante, em um pequeno vilarejo da frança, a menina cresce com uma beleza inigualável fazendo que todos a apelidaram de Bela (Belle em francês).

Neste mesmo tempo, uma jovem rainha cria o seu mais lindo príncipe com todo o conforto que o palácio pode oferecer, porém a rainha o abandona e o deixa para as fadas cuidarem. Quando o príncipe esta perto de completar seus dezessete anos, a fada que ficou encarregada de cuidar dele se afasta um por um tempo, e ao retornar algo incomum acontece, pois todo o sentimento maternal e de proteção que a fada possuía pelo príncipe se transforma em desejo carnal. A rainha intervém aos planos da fada de conquistar o príncipe e não o concede a fada o seu amado filho, por causa da idade que dela.

Ilustração do livro original de A Bela e a Fera
Furiosa, a fada lança uma maldição em cima do rapaz que o tornaria feio e repugnante, mas somente quando uma mulher aceitasse dormir com ele, por livre escolha, a maldição seria quebrada.

Com o passar do tempo o príncipe vira uma Fera rude e mal educada, até que um dia o pai de Bela acabada encontrando o seu castelo, após enfrentar uma terrível tempestade. A Fera permite que ele passe a noite em seu castelo, mas ao amanhecer ele precisará ir embora.

Assim que o sol nasceu, o pai de Bela vai até o estábulo pegar o seu cavalo e ao sair do palácio encontra uma linda roseira e apanha uma para levar a sua filha Bela. Assim que ele arranca a rosa do pé, a Fera surge da mata enfurecida pelo tamanho desrespeito e como punição decide que o pai de Bela deve morrer pelo seu ato. A sua decisão só muda quando o comerciante comenta que a flor era para sua filha mais nova.

A Fera propõe um acordo com o comerciante, que ele teria um mês para voltar e cumprir a sua punição, ou enviar a sua filha no seu lugar para que ela morresse no lugar dele. Ao chegar em casa, o comerciante, conta a família o ocorrido e todos os seus sete filhos e seis filhas ficam horrorizadas com o que acabará de acontecer.

Bela não aceitou que o seu pai morresse por causa de seu pedido e decide fugir para o castelo e tomar o lugar de seu pai. Ao chegar lá, a Fera pergunta se ela veio por livre escolha e confirmando que sim, Bela é aceita pela Fera. Mas, para Bela ficar no seu lugar ela teria que encontrar a Fera todas as noites, no mesmo horário, precisará ficar esperando a fera para jantarem juntos.

Ilustração do livro original de A Bela e Fera
Com o tempo, Bela vai perdendo o medo da fera e ele percebendo pergunta se ela deseja dormir com ele. Assustada, o responde que não. A Fera saí do cômodo enfurecida, mas na mesma noite Bela passa a ter sonhos pecaminosos com um lindo príncipe, o qual não deseja mais acordar. No próximo dia à noite, a fera a encontra novamente e faz a mesma pergunta: Bela quer dormir comigo? Ela novamente o responde que não.

Depois de alguns dias, Bela vai se apaixonando pela Fera e aceita dormir com ele. Após uma noite de amor inesquecível a Fera, após o ato, se transforma em um lindo homem.

A rainha vendo que o seu filho voltou a ser humano passa a não aprovar a relação entre ele e a Bela, por ela ser filha de um comerciante. Com isso, a fada velha revela o parentesco de Bela para a rainha, que é fruto de uma noite de amor da fada com rei da Índia, que ela após o seu nascimento foi expulsa do mundo das fadas. Depois de ter explicado que Bela também vem de uma boa linhagem, a rainha passa a aprovar o casamento dos dois.

No fim da história a fada ainda sofre algumas perdas, porém o motivo não foi revelado.

Vamos abrir um parêntese para fazer um comentário. Vou deixar abaixo dois trailers de duas versões bem diferentes de A Bela e a Fera, uma delas é a versão Disney em que romantizou para os dias atuais a história que Madame Leprince de Beaumont escreveu. Já a segunda versão é baseada na história original de Madame de Villeneuve, porém como foi feita em 2014, possui censura, mas o roteiro se aproxima bastante da história original.

TRAILER DA BELA E A FERA (2017)
Versão Disney


TRAILER DA BELA E A FERA (2014)
Versão inspirada na história original de Madame Leprince de Beaumont.


Publicitária apaixonada por filmes e seriados. Amante de livros e adoradora de viagens.


27 maio, 2019

A História Original de ALADIM E A LÂMPADA MARAVILHOSA


Assim como aconteceu com várias fábulas antigas, que através dos séculos vieram sofrendo modificações e ganhando novas versões, também com a famosa história de Aladim não foi diferente.

Aqui trazemos o excepcional trabalho de pesquisa e análise feito pela extraordinária filosofa Lúcia Helena Galvão, da sociedade Nova Acrópole, que foi realmente fundo e agora nos brinda com este maravilhoso estudo, que só enriquece a bela história de Aladim e - ainda mais! - nos presenteia com este engrandecimento do espírito.

Vamos ao vídeo!


21 fevereiro, 2019

O Início do Despertar

Andava entre as sombras das folhas e das inúmeras dores do caminho, muitas vezes indiferente ao que se passava ao seu redor, porquanto estava fixado em seu objetivo. Mas a insistência do tempo trouxe a insegurança, o sutil esmorecimento de sua concentração, e seu olhar abriu-se para o mundo que o rodeava ao longo do caminho.

A óbvia e constante manifestação da natureza em flores, ervas e insetos falou-lhe em primeiro plano, seguida da humanidade despertante em seu coração, diante da presença, cada vez mais notada, de seus pares em sua vidas particulares; mesclas aparentemente descompensadas de sofrimento e alegria, que o deixou confuso e respeito de si próprio, pois inevitavelmente espelhara-se e vira-se em situação semelhante.

Este foi o princípio do despertar da sabedoria e a evidência da gestação do sábio que viria a nascer muito em breve; não sem as naturais dores do parto.


04 outubro, 2018

Memórias de Um Velho Futuro 2

Lembro da neve carregada pelo falante vento, quando o inverno batia a nossa porta, trazendo além do frio, uma poesia estranha, que emaranhada nos pequenos cristais, cintilava seus versos em nossas vidas. Era uma trilha estranha a musicar um tempo que não parecia tempo. Olhávamos pela janela e qualquer instante perpetuava-se, sem que pudéssemos saber quanto tempo realmente passara nesta contemplação. Fazíamos nosso próprio tempo e mundo era nossa pequena casa, numa rua que acabava na entrada da floresta; prelúdio da montanha sagrada de nossos sonhos de uma vida, de nossas fantasias infantis decoradas de lendas e histórias, que tomávamos como verdades absolutas e desejávamos fazer parte.

O tempo passou, apesar de nunca nos importarmos com ele. A sagrada montanha coberta com seu manto de neve quase eterno permanece lá fora, como se nos observasse em sua imortalidade aparente. A rua não parece a mesma de antes. Hoje está cheia de pequenas casas modernas, de linhas arrojadas e sem poesia alguma. Triste. Apenas nossa casa permanece tal qual como sempre fora. Importunaram-nos anos seguidos com o futuro e sua insistência em tentar apagar de nossas lembranças a poesia das formas. Relutamos o quanto pudemos e fomos fortes o bastante, para que, finalmente, nos deixassem em paz. Então, assim preservamos não só a história, mas a poesia que poucos têm olhos para ver. 

Tristes tempos estes, onde tudo parece preceder até mesmo o imediatismo. Máquinas substituem todos os trabalhos pesados e os homens apenas se divertem. Talvez alguns valores tenham se perdido entre peças, engrenagens e mudanças. Mas quem realmente se importa? São pessoas deste tempo, cuja razão tão diferenciada burla a si mesma entre distrações e constante prazer. Os rostos que pareciam alegres, apesar das dificuldades e agruras até certo ponto, necessárias, agora parecem máscaras tão frias quanto as máscaras dos robôs que circulam agora por avenidas, em suas formas humanizadas e sua pele de uma mistura artificial de látex com outras tantas coisas que não fazem parte de minha instrução.

Eva me traz uma caneca de chocolate quente. Sinto o cheiro antes mesmo de ela entrar na sala. Tem sido difícil conseguir chocolate de verdade, depois das regras restritivas de saúde, onde apenas frutas são o que de natural permanecem sendo primordial à alimentação. Já não é correto alimentar-se de coisas condimentadas, posto que se saiba hoje, o mal que fazem ao perfeito funcionamento do organismo humano. Ah! Mais com os Diabos! Um chocolate quente não há de fazer tão mal, que não se possa degustá-lo nos dias frios. O radicalismo alimentar matou boa parte dos prazeres que a vida nos oferecia. É claro que existem alternativas artificiais, hoje perfeitamente seguras e que vem substituir os produtos condimentados cheios de conservantes, mas para mim, homem de tempos poéticos e românticos, estas coisas são apenas papel com sabor. 

É, eu sei. Pareço ridículo. Sinto-me ridículo, a bem-dizer da verdade. Mas sou um homem de opinião. Não gosto de ser tratado como gado. 

Está certo. No fundo também não passo de um radical, como qualquer outro “moderninho”. É verdade. Reluto à modernização da sociedade. Mas fazer o que? O progresso é inexorável e tenho que me acostumar.

Pobre Eva. Sempre suportando minhas reclamações silenciosas com um lindo sorriso, que me faz sentir-me novamente uma criança tola. O último herói da resistência à coisa nenhuma. Um pobre bobão que não tem mais do que reclamar e fica buscando colocar chifres em cabeça cavalo. A verdade é que luto contra mim próprio. Sou um ser humano complexo e cheio de birra com coisa nenhuma e com tudo ao mesmo tempo.

Sorvo um pequeno gole do chocolate e respiro fundo. O calor desce pelo peito e, como num passe de mágica, espalha-se por todo o corpo. Adoro chocolate quente.

Tomo mais um gole e resolvo descer para o laboratório. Preciso voltar a desenvolver o novo processador de singularidade quântica. Sinto que não estou longe de descobrir a camada de identificação de vetores de espaço-tempo. Talvez mais alguns ajustes e consiga encontrar a mim mesmo no final da esquina.

Dou uma tímida gargalhada ao pensar que, apesar de toda minha postura ranzinza e minha birra, sou um cientista que todos consideram brilhante e que está a ponto de revolucionar o meio de transporte não só na Terra, mas para outros rincões do universo. Paradoxal. Mas enfim, não faço o tipo estereótipo do cientista. Eu acho...


Memórias de Um Velho Futuro

Por quantos anos os sonhos perduraram, atravessando desafiadoramente nuvens e hálitos de dias funestos? Quantas palavras, dissertações e silenciosos olhares eternizaram a perfeita cumplicidade inigualável e absoluta? Quantos desejos não foram apaziguados na cama perfeita, nas luzes de dias perfeitos, na companhia simples e perfeita? 

Os anos passam rápidos e, de repente, abrimos os olhos e mais nada parece como antes, como se o tempo voasse além de nosso alcance no ínfimo fechar e abrir de pálpebras. E a inevitável certeza do agora que logo passa, é o que resta para nos trazer de volta a solidão imposta, como se a felicidade tivesse que ser compensada com o isolamento de tudo quanto foi o mais importante.

A despedida não é algo fácil, mas a aceitação de seguir em frente é a pior dor de todas, quando se segue então sozinho.

Faz dez anos que ela se foi e, ainda assim, permanece a dificuldade de aceitar o eco de sua voz, como um suspiro sutil, que parece passear por todos os cômodos da velha casa, explorando possibilidades de trazer de volta o passado, quando em realidade é apenas um reflexo de lembrança que escapa à sanidade e resvala pela mente distraída, dando a impressão da atemporalidade, como se nada tivesse mudado, fazendo-nos esquecer a realidade presente e reviver o amor tão vivaz quanto a realidade do passado que se foi.

A casa já não tem a vivacidade de antes. Os móveis continuam nos mesmos lugares, mas já não se tem forças para subir as velhas escadas em caracol, que leva até a suíte de tantos sonhos, tantos momentos inesquecíveis. Melhor assim. Já é bastante difícil conviver com as muitas lembranças que o resto da casa amotina-se contra mim. 

O tempo passou e muita coisa mudou nestes dez anos. O velho carro continua na garagem, sem utilidade. Um bibelô, uma lembrança dos tempos de motores a explosão e a necessidade de veículos para se transportar de um lugar a outro. Os tempos são outros. As ruas são dos pedestres que vejo através das vidraças empoeiradas, quando me animo a olhar para o mundo lá fora. Com o advento dos portais interdimensionais, qualquer outro meio de transporte ficara obsoleto. Apenas eu permaneço aqui, isolado do presente, numa vã tentativa de perpetuar o passado, em nome de um amor que teima em não morrer. Talvez só minha morte possa devorar a ânsia inesgotável deste sentimento que perdura, que insiste em me acompanhar. Oh! Como leviano me tornei. Rio de minhas próprias lamentações, quando meu único desejo é manter esta chama dentro de mim indefinidamente, posto que sua luz ilumina o que me resta de sã consciência. Como me fazes falta, minha querida...


20 janeiro, 2018

Encontro com um Avatar


   Anne vai subindo e entrando por entre as montanhas. Olha para as escarpas ao redor e sente receio. Isso gera um sentimento cada vez maior de insegurança e ela começa a sentir-se cansada. 

   Por entre as sombras da montanha algo se movimenta, à princípio furtivamente, porém, em seguida avança em sua direção na forma de seres nebulosos e monstruosos. Anne entra em pânico e, aproveitando-se do momento, um dos seres empunhando um estranho arco e flecha, dispara um seta veloz que atinge,  como um ferrão, o ombro direito da menina. Anne berra de dor e curva-se sobre o chão rochoso. Outros seres aproximam-se sedentos. Subitamente, uma luz irrompe em meio às sombras e os seres afastam-se, mas sem deixar o local. Observam visivelmente incomodados pela luz, enquanto soltam impropérios. No centro da luz surge uma forma translúcida, uma forma de uma grande árvore, no centro da qual começa a surgir um vulto que vai lentamente tomando a forma de um ser humano sentado na posição de lótus. O ser levanta-se calmamente e vem caminhando. 

   Anne observa o ser, porém além da dor insuportável, começa a sentir-se tremendamente fraca, dominada por confusão mental que a impede de raciocinar claramente. Em seu rosto, diversas artérias enegrecidas espalham-se cada vez mais numerosas, indo em direção a seus olhos partindo do ferimento, onde a flecha permanece cravada.

   O ser aproxima-se mais e revela-se um belo e jovem homem vestido com um suave manto dourado e os longos cabelos arranjados e presos no alto da cabeça. Sua fisionomia indochinesa é de uma serenidade profundamente reconfortante. Apesar de sua aura envolvente, ela não consegue mais discernir as coisas. O homem abaixa-se lentamente próximo de Anne, tocando com sua destra a flecha enegrecida. No mesmo instante, a seta se desfaz no ar em milhares de partículas, que vão se incendiando e desaparecendo, até nada mais restar. O horrendo e enegrecido ferimento do ombro de Anne permanece pulsante como uma criatura viva que vai alastrando-se por todo o corpo da menina. O homem toca o centro do ferimento e uma luz arroxeada cintila ao toque, tomando a forma de uma flor de lótus que, girando suavemente, vai esvanecendo até desaparecer. Em seu lugar, o ombro da menina está curado, como se nada o tivesse magoado antes. As artérias enegrecidas que cobrem o rosto de Anne começam a dissipar-se e um líquido viscoso, que parece ter vida, começa a sair por seus ouvidos, atirando-se no solo rochoso e desaparecendo entre os fragmentos de rocha, buscando esconderijo nas profundezas sombrias. 
   Anne sente-se exausta, mas o homem a ampara colocando a mão em seu ombro e olhando em seus olhos. Anne retribui o olhar.

- Maya.

   Anne escuta, sem entender a palavra que sai suavemente dos lábios quase imóveis do homem. Maya? Meu nome é Anne, pensa.

- Maya é a ilusão. Se sua mente é impura, sua terra será impura. Se sua mente é pura, sua terra será pura. O desejo é como um rei impiedoso, que nunca está satisfeito e que impera em seu coração. Não deseje e não sofra. O desejo é a alma do sofrer. Mantenha-se firme em seu propósito, porém flexível como árvores ao vento. Sua determinação é admirável, mas sua rigidez a enfraquece diante do vento dos acontecimentos. E isso te torna presa fácil do mundo de Maya.

   Anne escuta e tenta entender. Com certeza aquele era mais um ensinamento valioso como tantos outros que vinha recebendo, mas como seria possível pôr em prática aquilo? Como viver sem desejar algo? Como ser firme e flexível? Não parecia fazer sentido algum.

- Sua tarefa é descobrir o seu trabalho e, então, com todo o coração, dedicar-se a ele. Tudo o mais são ilusões para desviá-la de seu caminho. São obras de Maya. Tudo o que é passageiro é uma ilusão que nos vem incomodar. Seu coração está mergulhado na impureza, pois há ódio escondido nele e que você mesma desconhece. O ódio é como uma pedra quente que temos a intenção de atirar em alguém. Porém, é sempre aquele que levanta a pedra quem se queima primeiro. Há muitas queimaduras do passado, mas elas são exatamente isso, apenas passado. Somos o que pensamos. Tudo o que somos surge com nossos pensamentos. Com nossos pensamentos fazemos o mundo.  Tudo tem seu tempo no não-tempo. Observe. Apenas observe e siga em frente.
- Mas como...?
- A paz só pode ser encontrada dentro de você mesma. Não adianta procurá-la incansavelmente à sua volta, pois estará fadada ao fracasso. – Ele sorri amorosamente. – Só há um tempo em que é fundamental despertar. Esse tempo é agora. 

   Dizendo isso, ele toca a testa de Anne suavemente com a ponta de seu indicador e um brilho intenso espoca na consciência de Anne, iluminando tudo. 
    Ela não ouve nada, não vê nada, além de luz. Luz por todos os lados. Permanece assim por algum tempo, sem saber precisar o quanto, pois não há tempo nem espaço. Seu ser amplia-se tocando em tudo, mesclando-se a tudo sem deixar de ser ela mesma. Está imersa em profunda paz. Todo o universo passa a fazer sentido. Tudo é muito simples. Tão simples como as pessoas jamais imaginaram ser possível. Anne percebe o quanto as pessoas dificultam tudo tornando complexo e difícil o mundo, o universo, a vida. Todas as coisas são passageiras, ela sabe. E não está separada de nada. O universo é um só, onde Deus, deuses, seres e mais seres são partes de uma só coisa, uma só imensidão de paz e luz.
   De repente, ela abre os olhos e está novamente na silenciosa sala. Em sua frente, Helena sorri com os olhos marejados de lágrimas. Anne não compreende bem a situação. 

- Minha querida. Não tens a menor idéia de quem esteve contigo, não é?

   Anne faz que não entende.

- Só tive esta oportunidade muitos anos depois de iniciar meus estudos com os mestres do oriente. Você, em tão poucos meses, já recebeu a visita de um grande mestre.
- Mestre? O homem bom de manto dourado, que disse coisas profundas?
- Sim. Não sabes quem era ele? Nem imaginas?

   Anne, despreocupadamente, porém interessada, faz que não com a cabeça.

- Oh, querida! Já vens estudando algumas coisas sobre o budismo. Estiveste com Sidarta Gautama, um dos Budas. Poucos um dia conseguiram estar com ele em suas meditações. Estamos praticando há apenas alguns meses e você já teve a oportunidade de encontrá-lo no mundo espiritual. Acabaste de receber um grande presente.

   Anne tenta entender a dimensão do que Helena estava dizendo, da importância de tal encontro, mas era muito difícil para alguém que soubera da existência de Buda apenas por breves citações em alguns livros da estante da sala de tia Rita e das imagens gordinhas e sentadinhas de pernas cruzadas e que nada pareciam com o homem que ela acabara de conhecer. Fora isso, não tinha mais qualquer referência sobre o Buda.

- Anne, sei que ele te passou alguns ensinamentos.
- Sim.
- Pois medite sobre eles. No momento, podem parecer difíceis e, até mesmo, sem sentido mas, com o tempo e a meditação continuada, você começará a acessar egrégoras de forma pensamento mais elevadas e tudo começará a clarear. Tenha paciência e aplique-se com esmero aos estudos. Disciplina é a base de tudo. A partir de agora, além das poucas citações a que teve acesso dentro dos ensinamentos budistas, você acrescentará a teus estudos, a filosofia budista em sua essência primordial e sem os desvirtuamentos tão comuns às tantas vertentes que se seguiram com o passar das dezenas de séculos. Somente aqui em Shambala é possível tomar contato com a pureza dos ensinamentos de Sidarta.
- Sim, D. Helena. Eu vou me esforçar cada vez mais. E sempre me interessei por tudo que tenho aprendido. Tenho certeza de que vou gostar muito de aprender sobre o budismo.
- Por favor, querida, desde que chegou aqui, que quero te dizer isso: chame-me apenas de Helena. - Diz, abrindo um grande e terno sorriso.

   Anne sorri e faz que sim com a cabeça. No peito ainda sentia a sensação de paz daquele lugar para onde Sidarta a enviara. Mas será que ele a enviara mesmo para algum lugar? – Pensava. Talvez, segundo o que ele disse sobre a paz estar dentro de nós mesmos, ele só tivesse mostrado algo que estava dentro dela mesma, sem que ela nunca tivesse se dado conta disso. Enquanto pensava sobre isso, deu-se conta de que algo estava diferente. Resolveu calar o raciocínio e apenas sentir. Fechou os olhos e deixou a respiração tranquila. Em poucos instantes, abriu um sorriso. Meu Deus! – Pensou. Nada! Não há nada! – Disse para si mesma. Sim. Sua mente estava quieta. Não havia mais pensamentos pulando feito macaquinhos de um lado para o outro, impedindo-a de concentrar-se. Tudo estava silencioso em sua mente, quando ela calava o raciocínio ordinário. Agora, sim. Ela tinha certeza de que as coisas começariam a dar certo.
   Helena levantou-se sorrindo, entendendo os pensamentos animados de Anne e orgulhosa do progresso rápido de sua pupila. 

- Observe. Mesmo quando chegas à conclusão de que há o vazio, acabaste de preenche-lo com a o raciocínio desta certeza. – Helena piscou um dos olhos, enquanto sorria. Anne também sorriu, entendendo perfeitamente as artimanhas de sua própria mente. O Nirvana não seria atingido tão facilmente, soube.

  Anne seguiu sua mestra e Helena a convidou para um passeio pela cidade. As duas cruzaram os imensos umbrais dourados da sala, fechando a porta atrás de si.

Trecho de 'Anne Blind entre Luz & Trevas'
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